“Um país sem cultura é um país sem memória, sem história, sem futuro”, definiu a atriz Giulia Gam, uma das milhares de pessoas que passaram pelo Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MicBR) entre os dias 5 e 11 de novembro na Avenida Paulista, em São Paulo. “A cultura não é uma manifestação espontânea que simplesmente acontece, um entretenimento pequeno numa cidade ou outra. A gente precisa de uma estrutura para que a cultura aconteça”, disse ela após a exibição do filme Paraíso Perdido, no Caixa Belas Artes, uma das atrações do megaevento.
Com mais de 200 atividades e 400 empresas presentes em aproximadamente 3 mil reuniões nas rodadas de negócios, o MicBR conseguiu cumprir esse objetivo. Reforçou as conexões e criou novas oportunidades de troca entre compradores, vendedores e público de cerca de 30 países, em especial da América do Sul.
Dez setores da economia criativa foram contemplados: artes cênicas (circo, dança e teatro), audiovisual (cinema, TV, publicidade e novas mídias), animação e jogos eletrônicos, design, moda, editorial, música, museus e patrimônio, gastronomia, e artes visuais. Foram cerca de 8 mil inscrições nas palestras, oficinas e mesas-redondas.
“Estive nas sessões de networking e pude conversar com mais de 100 empreendedores”, relata Tati Peres, diretora-executiva de entretenimento da Pyntado, empresa de audiovisual e realidade virtual de Campinas (SP), selecionada para participar do MicBR. Dois dias depois do painel “Nichos de mercado em novos conteúdos imersivos”, Tati se reuniu com a mediadora da mesa, a engenheira em gestão de inovação pela COPPE/UFRJ Camila Santo, para conversar sobre as possibilidades do mercado de realidade virtual no Brasil.
“Esses contatos nos ajudaram a ter mais segurança e mesmo repensar algumas decisões que temos tomado. O pequeno empreendedor fica muito na solidão do dia a dia, e o evento foi essencial para trocar experiências e olhar para frente, para o futuro do negócio”, afirmou.
Economia em movimento
O intercâmbio de experiências promete fomentar ainda mais o setor da economia criativa, que já corresponde a 2,64% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, cria cerca de um milhão de empregos diretos e gera R$ 10,5 milhões de impostos por ano. Isso tudo além de levar cultura aos brasileiros. O Ministério da Cultura (MinC) espera que o MicBR tenha sido o ponto de partida para mais de US$ 10 milhões em negócios, geração de R$ 4,6 milhões em tributos federais, estaduais e municipais e a criação de cerca de 850 postos de trabalho, com um impacto estimado de cerca de R$ 40 milhões na economia nacional.
“Espero que isso permaneça, porque existe uma cadeia econômica, produtiva, que é muito importante para o País. E o maior beneficiário disso é o público”, disse Orlângelo Leal, empreendedor nas áreas de música e teatro que também participou do evento.
Quem decidiu curtir as atrações culturais e aprender um pouco mais sobre a área também não se decepcionou. “Eu acredito muito na inclusão. Acho que isso [o MicBR] é uma forma de colocar a cultura mais próxima de todo mundo. É um ambiente convidativo, amigável, você se sente bem, se sente à vontade”, disse a jornalista Juliana Goes, com a filha Anneliv, de dez meses, no colo. “É para todo mundo, é para todas as idades, olha ela aqui”, disse, mostrando a pequena, que assistiu à palestra do fotógrafo Bob Wolfenson na Japan House, no dia 9.
Negócios internacionais
As delegações de sete países que estiveram no MicBR 2018 (Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai) também elogiaram bastante o evento, ressaltando a oportunidade de fazer contatos e pensar projetos conjuntos.
Muitos grupos de WhatsApp foram criados ao longo da semana, juntando profissionais de uma mesma área de diversos países. Assim, dezenas de reuniões que não estavam programadas foram realizadas.
Sofia Lobos é secretária-executiva de Economia Criativa do Ministério da Cultura do Chile, país que enviou uma delegação de 67 pessoas. Ela conta que uma produtora teatral chilena já tinha programado a ida de uma peça para um teatro na Colômbia. Durante o MicBR, ela encontrou outros programadores colombianos e ampliou a turnê para mais três casas.
Na delegação paraguaia, a designer de moda Katherine Cubilla diz que ela e as companheiras conheceram designers da Argentina, Colômbia e uma brasileira que mora em Londres, mas tem uma loja em Nova York. Acertaram uma parceria para um desfile de primavera-verão para o ano que vem, nos Estados Unidos. Já o produtor de videojogos Paulino Rolón quer levar palestrantes que ouviu em São Paulo para seu país. Ele diz que essa indústria é muito nova no Paraguai, tem apenas cinco anos e ainda não se concretizou.
A Argentina enviou uma delegação de 63 pessoas. O diretor nacional de Economia Criativa da Secretaria da Cultura, Máximo Jacoby, disse que o MicBR “ajuda a criar um circuito de fortalecimento e internacionalização das nossas indústrias criativas.” Os produtores da peça teatral “El Amor es un Bien” fizeram negociações para a realização de espetáculos em Trujillo, no Peru; em Guayaquil, no Equador; e em Bogotá, na Colômbia. Produtores de audiovisual também relataram sucesso em outras reuniões com profissionais do setor.
O representante do Ministério da Educação e Cultura do Uruguai, Rodrigo Márquez, conta que houve vários avanços em negociações para levar artistas uruguaios aos festivais de Atacama e Santiago Off (Chile) e Rock al Parque (Colômbia).
Fonte: MINCBR